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Isabel Chorobik, que fundou a Praça das Mães de Maio, morreu aos 94 anos, sem ter encontrado a Neta

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(Por O Globo) Ela adentrou na sala de audiências dos tribunais de La Plata, que é a capital da província de Buenos Aires. Ela foi aplaudida por causa de sua infatigável procura pela verdade. Sentado no banco dos réus situava-se o ex-policial Miguel Etchecoltaz, que por sua vez foi condenado a prisão perpétua sob a acusação crimes de lesa-Humanidade. Isso tudo ocorreu em 2006 e Maria Isabel Chorobik de Mariani, mais popularmente conhecida como Chicha, estava em busca de sua neta, Clara Anahi, desde o mês de novembro de 1976. Dotada de uma força que sempre foi vista como um de seus maiores atributos e com Etchecolatz usando as mãos para encobrir a face, ela falou aquilo que todos já tinha conhecimento: “Não posso me dar permissão para morrer, preciso encontrar a minha neta”.

Contudo, infelizmente, Chicha faleceu, na segunda-feira passada, aos 94 anos de idade e sem ter encontrado a sua neta Clara Anahi. Chicha foi a fundadora da famosa Mães e Avós da Praça de Maio e também uma promotora de inúmeras iniciativas em termos de direitos humanos, ela auxiliou muitas pessoas, porém jamais conseguiu aquilo que mais desejava.

A sua amada neta tinha somente 3 meses no momento em que foi sequestrada no decorrer de uma enorme operação militar na casa onde residia com seus pais, Daniel Mariani e Diana Teruggi.

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Os dois colaboravam com a organização Montoneros, que se configurava como um braço armado da esquerda peronista. De acordo com o que Chicha relatou em diversas entrevistas, na casa baleada ao longo de quase cinco horas pelos militares acontecia a impressão da revista “Evita Montonera”, na qual Daniel, Diana e outros colaboradores efetuavam denúncias a respeito dos desaparecimentos, assassinatos e das torturas das pessoas que se opunham ao regime ditatorial.

“Desejaria que Etchecolatz abandonasse o terço que possui em suas mãos e simplesmente falasse onde está Clara Anahi, porque ele sabe — garantiu Chicha em 2006.

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Entretanto o ex-policial, que permanece preso, jamais contou. E Chicha aproveitou cada um de seus dias de vida para procurar uma neta que caracterizou como “um anjo” em um documentário chamado “A avó amor”, lançado em 2015.

Por meio da Associação Clara Anahi ela recebia informações, corria atrás de pistas, procurava e procurava. Todavia nenhum dos rumos escolhidos a levou até sua neta, que atualmente teria 42 anos de idade.

A casa na qual foi observada pela última vez se transformou em um museu e lá se encontram fotos de Diana e de todos os mortos no ataque, além de elementos utilizados pela família. Até mesmo o automóvel, um Citroen todo enferrujado, permanece guardado na garagem. É quase como um túnel do tempo que nos leva a outra época da história.

“Costumo dizer que tive dois filhos. Um eu perdi (Daniel foi assassinado oito meses depois do atentado à casa) e a outra passei minha vida procurando”, falou Chicha no documentário.

A morte de Chicha foi sentido por autoridades políticas, militantes dos direitos humanos e intelectuais que acompanharam a luta incansável desta avó que não teve a mesma sorte que outras 128 que já encontraram seus netos roubados durante a última ditadura argentina (1976-1983).

O contingente total de netos que foram tirados de suas famílias (vários nasceram em centros clandestinos de detenção e torturas) é especulado de entre 400 e 500. Chicha morreu, porém Clara Anahi, quem sabe, ainda esteja buscando saber qual a sua verdadeira origem.