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Empresários bancam campanha ilegal contra o PT pelo WhatsApp à favor de Bolsonaro

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(Por Folha de São Paulo)

Um conjunto de empresas estão adquirindo diversos pacotes de disparos em massa de mensagens contra o Partido dos Trabalhadores (PT) no WhatsApp e estão preparando uma operação de grandes proporções na semana que antecede o segundo turno das eleições de 2018. 

Essa modalidade de prática é totalmente ilegal, pois corresponde à doação de campanha efetuada por empresas, algo terminantemente proibido pelas leis eleitorais, além do fato disso não ter sido declarado na prestação de contas da campanha da Jair Bolsonaro (PSL).

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A Folha De São Paulo averiguou que cada contrato realizado alcança a marca de R$ 12 milhões e, entre as companhias compradoras, está a Havan, que havia sido processada pelo Ministério Público do Trabalho, sob a acusação de coagir os funcionários a votarem em Bolsonaro. Os contratos foram elaborados para disparos de centenas de milhões de mensagens.

As empresas que estão dando apoio ao candidato Jair Bolsonaro (PSL) compraram um serviço cujo nome é “disparo em massa”, utilizando não somente a base de usuários do próprio candidato do PSL ou então também bases vendidas por agências que trabalham com estratégia digital. Isso também se configura como uma prática ilegal, porque, de acordo com a legislação eleitoral, é expressamente proibida a compra de base de terceiros, sendo permitida apenas a utilização das listas de apoiadores do próprio candidato, cujos números foram cedidos de modo voluntário.

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Quando se valem de bases de terceiros, essas agências ofertam uma segmentação por região geográfica e, eventualmente, em conformidade com a renda. Encaminham ao cliente os respectivos relatórios de entrega informando a data, o horário e o conteúdo disparado.

Entre as agências  que estão realizando esse tipo de serviço estão a Quickmobile, a Yacows, Croc Services e a SMS Market.

Os valores oscilam entre R$ 0,08 a R$ 0,12 por cada disparo de mensagem direcionada a base própria do candidato e de R$ 0,30 a R$ 0,40 por cada disparo de mensagem quando a base é aquela fornecida pela agência.

Essas bases de usuários são, em muitos casos, fornecidas de forma ilegal por empresas de cobrança ou então por colaboradores de companhias do ramo de telefonia.

Empresas investigadas pela equipe de reportagem da Folha disseram não ter condições de aceitar pedidos antes da data de 28 de outubro, o tão aguardado dia da eleição no segundo torno, declarando ter serviços grandes de disparos de WhatsApp na semana que antecede o segundo turno adquiridos por empresas do setor privado.

Quando foi questionando se efetuou disparo em massa, Luciano Hang,proprietário da Havan, falou que desconhece “o que é isso”. “Não temos essa necessidade. Fiz uma ‘live’ aqui agora. Não está impulsionada e já deu 1,3 milhão de pessoas. Qual é a necessidade de impulsionar? Digamos que eu tenha 2.000 amigos. Mando para meus amigos e viraliza”, afirmou.

Quando foi procurado, Peterson Rosa, o sócio da QuickMobile, Peterson Rosa, declarou que a empresa não está trabalhando no setor da política agora em 2018 e que tem se concentrado somente na mídia corporativa. Ele nega ter firmado contrato com empresas para realização de disparo de conteúdo político.

Richard Papadimitriou, da Yacows, declarou que não ia se manifestar. A SMS Market não deu até agora nenhuma resposta às solicitações de pedidos de entrevista.

Na prestação de contas do candidato à presidência da República Jair Bolsonaro (PSL), está marcado somente a empresa AM4 Brasil Inteligência Digital, que por sua vez recebeu R$ 115 mil para mídias digitais.

De acordo com Marcos Aurélio Carvalho, um dos proprietários da empresa, a AM4 possui só 20 pessoas atuando na campanha. “Quem faz a campanha são os milhares de apoiadores voluntários espalhados em todo o Brasil. Os grupos são criados e nutridos organicamente”, diz.

Ele falou que a AM4 mantém somente grupos de WhatsApp para a efetuação de denúncias contra fake news, listas de transmissão e grupos estaduais com o nome de comitês de conteúdo.

Todavia, a equipe da Folha de São Paulo fez uma apuração com ex-funcionários e com clientes e descobriu que o serviço da AM4 não se limita a isso.

Uma das ferramentas utilizadas pela campanha eleitoral de Jair Bolsonaro é o ato de gerar de forma automática uma série de números, através de sites como o TextNow.

Funcionários e voluntários tem à sua disposição dezenas de números desse tipo, que utilizam para administrar grupos ou participar dos mesmos. Contendo códigos de área de outros países, esses administradores consegue fugir dos filtros de spam e das restrições impostas pelo WhatsApp —o máximo de 256 participantes em cada grupo e o repasse automático de uma mesma mensagem para um número de até 20 pessoas ou então 20 grupos.

Esses mesmos administradores também se valem de algoritmos que fazem a segmentação dos membros dos grupos entre apoiadores, detratores e neutros, e, desse modo, é capaz de customizar de maneira mais eficiente o tipo de conteúdo que mandam.

A maior parcela do conteúdo não é confeccionada pela campanha —vem dos próprios apoiadores.

Os administradores de grupos pró-bolsonaro também identificam aquilo que chamam de “influenciadores”: apoiadores bastante ativos, os quais entram em contato para a criação de mais grupos e realizem mais ações a favor de Bolsonaro. Essa prática especificamente não é ilegal.

Não existe indício de que a AM4 tenha firmado contratos para os disparos em massa; Carvalho nega que sua companhia faça segmentação de usuários ou algum tipo de modelação de conteúdo.

As estimativas de pessoas que operam no setor a respeito da quantidade de grupos de WhatsApp antipetistas são bastante vagas —oscilam de 20 mil a 300 mil— pois não é possível estimar os grupos fechados.

Diogo Rais, que é professor de direito eleitoral da Universidade Mackenzie, renomada universidade privada, afirma que a compra de serviços de disparo de WhatsApp por firmas com o intuito de favorecer um determinado candidato se caracteriza como doação não declarada de campanha, o que é proibido.

Ele não cita nenhum caso específico, porém lembra que desse jeito pode-se cair no crime de abuso de poder econômico e, caso seja julgado que a ação exerceu influência sobre a eleição, isso pode levar à cassação da chapa.