Um incêndio de gigantescas proporções destruiu o Museu Nacional, na Quinta da Boa Vista, situada no bairro de São Cristóvão, na Zona Norte do Rio de Janeiro.
O incêndio teve início por volta das 19h30min desse domingo, dia 02 de setembro de 2018. A referida instituição completou 200 anos esse ano. O museu foi fundado por D.João VI, no ano de 1818, sendo uma das mais importantes instituições científicas, culturais e históricas do país.
O acervo, que possuía por volta de 20 milhões de peças, foi quase totalmente destroçado pelo fogo. Obras de arte, fósseis, múmias, documentos, registros históricos, móveis, enfim, inúmeros itens se transformaram em cinzas. Há notícias de pedaços de documentos queimados que acabaram parando em outros bairros da cidade.
Veja abaixo um vídeo do museu em chamas:
De acordo com a assessoria de imprensa do museu e também com informações do coronel Roberto Robadey, que é comandante-geral do Corpo de Bombeiros, não houve feridos. Havia 4 vigilantes no local, porém eles conseguiram sair a tempo.
Dois andares ficaram completamente destruídos e uma parcela do teto de madeira ruiu. Ainda segundo o coronel Robadey, o prédio não corre o perigo de desabamento. As paredes da parte exterior do edifício são bastante espessas e, apesar da antiguidade, conseguiram resistir. Conforme informado pelo coronel, algumas paredes internas desabaram.
O comandante-geral dos bombeiros também informou que os dois hidrantes que haviam no entorno do imóvel não funcionaram. Por essa razão, o combate ao incêndio levou mais tempo do que era desejado. Foi necessário então acionar o CEDAE (Companhia Estadual de Água e Esgoto), que por sua vez realizou o fornecimento de alguns caminhões-pipa.
Não se sabe oficialmente o que pode ter causado de fato o incêndio.Quando o fogo começou, a visitação ao museu já havia sido encerrada
A Polícia Civil fez a abertura de um inquérito e vai repassar o caso para a Delegacia de Repressão a Crimes de Meio Ambiente e Patrimônio Histórico, pertencente à Polícia Federal, que conduzirá a questão daqui por diante e vai averiguar se se tratou de um incêndio criminoso ou não.
“Não vai sobrar praticamente nada. Todo o prédio foi atingido. Um absurdo o descaso e abandono que estava esse museu icônico. É como se queimassem o Louvre ou o Museu de História Natural de Londres”, se lamenta Luiz Fernando Dias Duarte, que nada mais é do que o vice-diretor do Museu Nacional.
Funcionários do museu, pesquisadores e estudantes uniram esforços com os bombeiros na tentativa de ajudar no combate ao fogo. O intuito era evitar que as chamas alcançassem uma área do museu que contém produtos químicos, sendo alguns deles inflamáveis e utilizados na conservação de animais raros.
Tragédia anunciada
Ainda segundo o comandante-geral dos bombeiros, o prédio não possuía um sistema apropriado de proteção contra incêndios. As leis que exigem essa modalidade de estrutura data de 1976, momento esse em que o prédio já tinha mais de um século. Por volta de um mês atrás os representantes do respectivo museu entraram em contato com os bombeiros, para discutir a respeito da instalação de um sistema de proteção contra incêndios.
“Uma catástrofe. São 200 anos de patrimônio desse País, são 200 anos de memória, tudo se perdendo em fogo por falta de suporte dos governos brasileiros e de consciência da classe política”, desabafou Luiz Duarte.
O museu completou seus 200 anos com diversas goteiras, várias infiltrações, salas vazias e problemas nas instalações elétricas. Muitas salas estavam fechadas por ausência de possibilidade de funcionar. O espaço que comportava uma das peças mais famosas e observadas, a montagem da primeira réplica de um dinossauro de grande porte no País, foi fechado em decorrência de uma infestação de cupim.
Alexander Kell, que assumiu a direção do museu agora em 2018, fez do antigo quarto de d. Pedro II, que estava fechado a duas décadas, em seu escritório. No cômodo que em outra época era repleto de luxo e requinte, conforme mostrou o jornal Estadão no mês de abril, havia um lustre quebrado, móveis carentes de restauração, uma quantidade considerável de tábuas de madeira soltas no chão e focos de infiltração.
Entre os anos de 2014 e 2018, o orçamento destinado a manutenção do museu sofreu uma queda vertiginosa, indo de um soma em torno de 500 mil reais para míseros 54 mil.
Há muitos anos o museu se esforçou em levantar recursos para reformas e manutenção. De acordo com o vice-diretor da instituição, desde o ano 2000 era solicitada verba para a construção de anexos que fossem capazes de armazenas as pesquisas que precisavam de preservação em formol e álcool, porém somente um anexo foi erguido, com recursos oriundos da Petrobrás.
Por causa do bicentenário, o museu havia assinado com o BNDES um contrato de patrocínio no valor de R$21,7 milhões. O dinheiro seria empregado na reforma do prédio.
A situação atingiu um estágio crítico, a ponto de o museu fazer o anúncio de uma “vaquinha virtual” para angariar recursos junto ao público a fim de reabrir a sala mais importante do acervo, onde ficava a instalação do dinossauro Dino Prata. O objetivo era conseguir R$ 100 mil.
Lista de alguns dos itens do acervo destruídos pelo incêndio
Eis abaixo a lista “não-oficial” de alguns dos itens do acervo do museu que foram destruídos pelo fogo:
- Luzia, um fóssil de 12 mil anos, considerado o fóssil mais antigo das Américas a respeito da ocupação do continente.
- O sarcófago de Sha Amun Em Su, um dos únicos do planeta que ainda não havia sido aberto.
- O acervo da botânica Bertha Lutz.
- O trono do rei Adandozan, do reino africano do Daomé, datado do século XVIII.
- O prédio onde foi assinada a Independência do Brasil.
- Meteorito Bendegó, o maior já encontrado em todo o Brasil.
- O gravador primitivo de Thomas Edson, confeccionado pela companhia do mesmo e usado por Roquette Pinto, que fez diversas gravações de cerimônias e cantos indígenas.
- Diário da Imperatriz Leopoldina.
- Primeira edição dos Lusíadas, de 1572.
Esses são apenas alguns dos incontáveis itens que foram destruídos pelo incêndio. Após o total controle do incêndio e resfriamento da estrutura, bombeiros avaliaram o local e posteriormente equipes faram um levantamento completo e oficial do que se perdeu.
Funcionários do museu tentaram salvar acervo
Dezenas de funcionários do Museu Nacional estiveram presentes no Museu Nacional em uma tentativa de salvar o acervo. A prioro, a Polícia Militar barrou os mesmos de adentrarem no local e houve momentos de tensão, porém posteriormente uma servidora convocou trabalhadores de determinados setores para ver se conseguiam resgatar uma parcela do acervo ainda não havia sido atingido pelo fogo.
Algumas pessoas residentes na região se voluntariaram para ajudar no trabalho. Habitantes do entorno buscaram água para auxiliar quem estava trabalhando no local.
Mais cedo no mesmo dia, completamente tomada pela emoção, a vice-diretora do Museu Nacional, Cristiana Cerezo, atirou-se ao chão assim que chegou ao local.