O empenho democrata para conquistar o voto de negros, latinos e jovens nas eleições legislativas a serem realizas em novembro bate de frente, com a mesma força e intensidade, porém no sentido contrário, com uma série de iniciativas de cunho conservador que buscam restringir o grau de participação dessas categorias de pessoas.
O alvo dessa ação conservadora corresponde a 133 milhões de cidadãos americanos que, atualmente, são aproximadamente 59,2% dos eleitores estadunidenses. São pessoas negras, latinas, asiático-americanos e os chamados millennials — aquelas pessoas nascidas na década de 1980— que, em teoria, estariam propensos a votar nos democratas por se sentirem mais identificados com ideias progressistas como aquelas professadas pelo partido do ex-presidente Barack Obama (2009-2017).
As táticas para bloquear o voto dessa parcela da população englobam o fechamento de locais de registro de eleitores em universidades e em áreas com maioria de pessoas negras, e novas normas sobre documentação de identificação que culminam em um impacto maior sobre a população negra e latina mais carente.
Ao inverso do que ocorre no Brasil, o voto nos Estados Unidos não é obrigatório.
Esse backlash conservador não vem de agosta. Teve início no ano de 2013, quando a Suprema Corte invalidou pedaços do ato de direitos a voto, determinado em 1965 para impedir a discriminação racial em eleições.
As normas em vigor obrigavam municípios, condados e nove estados estadunidenses (Alabama, Alasca, Arizona, Geórgia, Louisiana, Mississippi, Carolina do Sul, Texas e Virgínia) a conseguir a aprovação federal antes de efetuar alterações em suas leis eleitorais e regulamentações.
A decisão da Suprema Corte, contudo, abriu uma enorme brecha para os estados fazerem tentativas —e por diversas vezes, bem sucedidas— de lograr a aprovação de leis mais restritivas.
É o que ocorre na Carolina do Norte, explica Maggie Thompson, que é a diretora-executiva de uma organização chamada Generation Progress.
No ano de 2017, republicanos do estado em questão aprovaram uma lei que eliminava como modo de identificação eleitoral documentos utilizados sobretudo por negros, como aqueles cuja emissão é efetuada para funcionários do governo, estudantes e pessoas que recebiam alguma modalidade de benefício público. A lei foi vetada pela Suprema Corte, que declarou que “tinha como alvo afro-americanos com precisão quase cirúrgica”.
Agora em 2018, os senadores republicanos atacam novamente. Eles querem retirar o último sábado da eleição antecipada, que é justamente o dia no qual há uma presença muito maior de eleitores negros. A data oficial da eleição, 6 de novembro, incide sobre uma terça-feira.
“É uma prática que explicitamente favorece um segmento da população com grau de estabilidade muito grande. Se você trabalha no McDonald’s, pode não ter oportunidade de sair para votar”, conta Chayenne Polimédio, vice-diretora do think tank New America.
Uma outra proposta quer adicionar uma emenda constitucional na votação de novembro para obrigar que todo eleitor mostre um documento de identidade com foto antes de fazer a sua votação.
Nos Estados Unidos, não existe uma documentação de identificação nacional da população. E vários dos documentos que normalmente podiam ser usados para atestar a identidade, como a carteirinha estudantil, foram invalidados, explana Kat Calvin, fundadora da organização Spread the Vote.
“Isso significa milhões de pessoas que não podem votar. São sobretudo negros, jovens e de baixa renda, que costumam votar em temas de esquerda”, atesta Calvin.