Frente à retração experimentada pelos planos de saúde por conta da forte crise econômica que o país enfrenta e da abundância de mão-de-obra médica disponível, as clínicas populares, que propiciam consultas a partir de um valor de vinte reais, espalham-se por todo o território brasileiro.
Diante de um contexto no qual a competitividade é bastante forte, essas empresas se utilizam de táticas que englobam toda sorte de convênios, inclusive convênios com torcidas organizadas de futebol, patrocínio a times de várzea e até mesmo propagandas com pessoas famosas, como a cantora Gretchen.
Essas clínicas permitem igualmente o parcelamento das consultas e também desconto em conta de energia. Elas oferecem uma gama variada de opções, como atendimentos de duração mais reduzida (em 15 minutos) e oferecimento de médico de família..
O ponto de convergência entre essas clínicas populares é o público abarcado por elas. Esse público é composto, de modo geral, por pessoas que estão bastante insatisfeitas com os serviços oferecidos pelo SUS (Sistema Único de Saúde) e parcialmente por indivíduos que sofreram a perda de convênio médico nos últimos tempos – o que é o caso de aproximadamente 3 milhões de pessoas desde 2014.
A evasão dos planos de saúde, além de dar um gás a esse mercado, acabou resultando na elitização do perfil dos pacientes de um certo contingente de estabelecimentos. Segundo a Folha, um claro exemplo disso é a rede chamada Dr. Consulta, uma das primeiras nesse segmento.
A Dr. Consulta foi fundada em 2011, tendo a sua primeira unidade na conhecida favela de Heliópolis. Já em 2014, a empresa detinha quatro centros médicos distintos. Agora em 2018, ela vai finalizar com 79 unidades ao total. Uma parcela deles está localizada nas regiões periféricas da capital paulista, todavia há uma porcentagem em regiões mais valorizadas, como a avenida Rebouças e a Nove de Julho, mais especificamente nos Jardins.
Algumas dessas empresas populares no setor da saúde já afirmam que atualmente uma boa parte do seu público consumidor está situado entre as classes A e B.
O potencial latente desse nicho de mercado tem despertado o interesse de investimentos externos do campo da saúde, como o empresário brasileiro Roberto Justus. Em uma parceria comercial com Ruy Marco Antônio, ex-dono do Hospital São Luiz, ele inaugurou no ano passado uma clínica chamada Megamed.
Proporcionando condições especiais para torcedores pertencentes à torcida organizada do Corinthians, a famosa Gaviões da Fiel, a clínica conta com duas unidades na zona leste da cidade de São Paulo e intenciona realizar a inauguração de franquias no interior do Estado, sem falar também em outros estados.
Além de apostar as fichas nas pessoas físicas, ela mira nas empresas que não pagam nenhum tipo de plano de saúde, mas que desejam conceder algum benefício aos seus funcionários, ou então com grupos de trabalhadores autônomos, como taxistas de um certo ponto, diz em declaração Vânia Cardoso, que é diretora-geral da Megamed.
Empresas de grande porte decidiram também a partir de agora a investir nesse setor. A Amil, por exemplo, obteve uma autorização do Cade para criar, em conjunto com o grupo de diagnóstico Dasa, uma rede de clínicas populares.